<$BlogRSDURL$> O País Relativo
O País Relativo
«País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano» - A. O'Neill
quarta-feira, dezembro 31
 
Palavras que nos salvam: No Alentejo mais ou menos profundo, entre as ondas e um sol que espreita de vez em quando, esperava hoje poder reencontrar, com o Blitz, as "escríticas pop", que li emprestadas há uns treze anos, e que nunca tive minhas. Enganei-me, ao Alentejo o livro não chegou, do mesmo modo que na Lisboa de há treze anos atrás, só dificilmente os discos chegavam. Sinal dos tempos e do tempo nos lugares. Ainda assim, no Blitz que recomprei, com um pouco do sabor da adolescência, reli de novo o MEC (que influenciou todos na blogosfera?):
"claro que continuo a gostar e a ouvir mas, por muito agradável e reconfortante que seja o contínuo deslumbramento, lembro-me sempre dos dias em que ouvias as gravações dos Durutti Column ou dos Joy Division quando tinham acabado de ser feitas e da reavaliação terrífica e maravilhosa que provocaram nas minhas ideias e nos meus gostos da altura - e nada se pode comparar a isso. A música pop, quando é grandiosa, muda-nos.
Tenho horror ao que seja 'histórico' ou de 'referência'. A única maneira arrebatadora de ouvir música é pela primeira vez"
(...)
"a melhor música é não só feita por jovens – como só é ouvida, como deve ser, por jovens. Isto é, para mim, inegável. É preciso empenho; preocupação; entrega; insegurança; inocência; radicalismo; exclusividade."

Tenho para mim que nunca mais voltaremos a gostar de nada do modo como gostámos, com o deslumbramento da inocência inicial, da primeira vez que ouvimos os Smiths, os Joy Division, a guitarra do Vini Reilly. Disso não podemos escapar, mas valha-nos isso. PAS

 
EXCLUSIVO PAÍS RELATIVO
Chalana e Carlos Manuel acusados de socialismo.

Agora a sério. Não sabíamos, mas ficámos ontem a saber, que as duas ex-glórias do Benfica são, pelos vistos, socialistas. RB
terça-feira, dezembro 30
 
Está tudo doido Ao que parece, passou quase incólume um momento inolvidável na SIC. Há uns dias, terá sido transmitido um programa de Natal em que, em directo, João Baião anunciava a liberdade a vários presos, que tomavam ali conhecimento em primeira mão, diante das câmaras, da notícia. Todo o conceito do produto televisivo em causa, evidentemente, é abjecto e de péssimo gosto: a liberdade como dádiva e não como direito; como prémio de concurso, perante um público massificado, e não como uma condição de cidadania com direito à privacidade.

Mas das televisões já sabemos o que esperar. O que é revoltante é que tenha havido responsáveis, técnicos e políticos, pelo sistema prisional que tenham permitido uma coisa destas. E intriga-me ainda mais o silêncio da sra. ministra da justiça, responsável política por esta bizarria intolerável. Já deu explicações? Sente que não tem que as dar? Já demitiu os responsáveis directos pelo sucedido? O que pretende fazer?

Muitas vezes, neste governo, parece que não há responsáveis por coisa nenhuma. O pior é quando a coisa chega a um ponto em que quase somos levados a pensar se, na verdade, chega a haver imputáveis. MC
segunda-feira, dezembro 29
 
Um elo chamado Rauber Alguns amigos meus saberão do que estou a falar: há uma velha, e animada qb, discussão em torno de uma ligação profunda e substantiva entre as obras de Jacques Brel e Fernando Tordo. Pois bem, o Zé Luís (que, ao que sei, ainda não tem um blog) chamou-me a atenção para um elo que continuaria perdido não fosse a sua oportuna lembrança. Recomento aos descrentes que leiam a confissão de Tordo, pelo seu próprio punho. E creiam. MC
 
Revisão da matéria dada Nem esta quadra deixa Blair a salvo do seu pior fantasma: as armas de destruição maciça que, juntamente com o castelo de cartas que era o poderio militar de Saddam, se desvaneceram no ar, armas essas cuja existência foi o grande pretexto invocado para seguir os americanos na invasão do Iraque à margem das Nações Unidas. Paul Bremer, insuspeito administrador norte-americano do Iraque nomeado pelas forças de ocupação, refutou em entrevista à ITV que houvesse provas concludentes sobre a existência destas armas. Afinal, a condição primeira para os defensores da invasão. Tendo em atenção que as forças de ocupação já apanharam quase todo o "baralho", que estão no Iraque há muitos meses, e que o tipo de arsenal então anunciado ao mundo não é propriamente fácil de esconder durante muito tempo, esta afirmação quererá dizer alguma coisa.

Obviamente, Blair não admitirá que mentiu. Nem sequer que estava factualmente errado na "avaliação que fez dos factos" disponíveis, como pretende Robin Cook. Primeiro, porque não pode, sob pena de aumentar ainda mais o pesado preço político que está a pagar. Mas, acima de tudo porque a questão não é, nem nunca foi, uma questão de "avaliação factual da" situação militar iraquiana antes da invasão. Foi uma decisão estratégica americana, no quadro de uma linha de intervenção mais vasta cujo itinerário passava obrigatoriamente pelo derrube de Saddam e pela invasão do Iraque. Independentemente dos factos que viessem a ser "descobertos" - e que nunca passaram de um logro.

Este logro é, aliás, o único elemento "concludente" que há, ou haverá, sobre a questão das armas de destruição maciça no Iraque. E que se diga agora que a invasão era legítima independentemente disso, é uma coisa; o que não se poderá fazer é apagar as justificações e condições que foram traçadas na altura. A esse respeito, basta consultar as declarações de responsáveis políticos, artigos de jornal, e numerosos posts que foram escritos. E é comparar.

Talvez seja altura de muito boa gente fazer o seu mea culpa público. E, em vez de rever a história (da prática e da sua própria teoria), fazer a necessária revisão da matéria dada. MC
quarta-feira, dezembro 24
 
Conselho de Natal: Este post é para si que, a poucas horas da noite de Natal, ainda não comprou nada para ninguém. Não se precipite nos centros comerciais. Os centros comerciais são como as intervenções militares americanas: sabe-se quando se entra, mas nunca se sabe quando se sai. Dirija-se antes ao aeroporto, mais precisamente à zona das partidas. A sério: as lojas têm tudo o que precisa, e, acima de tudo, não têm ninguém. Além disso, é muito fácil estacionar. Portanto, não vá de taxi. Sobretudo, não volte para casa de taxi. FN
 
Parece um post do Companheiro Secreto:
«O Papai Noel é muito importante, mas não se esqueçam que o Natal é a festa do menino Jesus
Mensagem de Edson Arantes do Nascimento, "Pelé", Sportv, 24 de Dezembro de 2003
FN

terça-feira, dezembro 23
 
A prenda mais sentida Estava a ver que tinha de ir gozar esta quadra sem me despedir do dr. Bagão Félix, mas felizmente tenho ainda a oportunidade de lhe dirigir, sabendo-o leitor atento e assíduo do país relativo, os votos de boas festas e, sobretudo, de um 2004 mais feliz.

V.exa termina o ano com uma decisão carnavalesca de aumentar o salário mínimo na ordem dos 2,5%, valor claramente abaixo da inflação prevista e que corresponderá na prática para aí a uns já muito generosos nove (9!) euritos por mês. Ou seja, o salário mínimo , daqueles que já ganham muito pouco, diminui em termos reais. Os mais pobres passam a ganhar menos, por decisão do Governo, que aprovou esta medida, note-se, tendo em conta uma perspectiva solidária (sic) mas comportável com a necessidade de estabilidade, sem agravar as condições de desemprego", explicou Bagão após a reunião do Conselho de Ministros.

E viva o velho, que a crise é para todos. Mas muito mais para uns do que para outros. Pelo menos, já se percebe melhor como é que vai ser conseguida a famosa promessa de convergência das pensões com o salário mínimo. Assim, ainda é possível. Claro que talvez o dr. devesse ter avisado um pouco mais cedo o método que ia ser seguido, mas pronto, não se pode dizer tudo de uma vez.

Outra notícia para fechar o ano em beleza é a de que a segurança social está ainda mais metida do que já se sabia nas trapalhadas da dra. Ferreira Leite para cumprir um défice falso e mentiroso. Depois do não cumprimento do orçamento de estado no que toca ao financiamento do sistema público de segurança social, depois da negociata ruinosa do fundo de pensões dos CTT, e depois da venda de créditos da segurança social ao desbarato e em condições vergonhosas de que se desconhece a verdadeira dimensão, eis que afinal parece que até aqui há manobras de duvidosa legalidade no meio disto tudo.

Dr. Bagão Félix: um santo natal, de reflexão, partilha e comunhão junto dos seus, e boas entradas no ano que se avizinha. Sem mais assunto de momento, subscrevo-me, MC
 
A fava e o bolo: mesmo antes do natal, numa das suas reuniões secretas semanais, o Governo decidiu aumentar o salário mínimo menos de dez euros, um aumento de 2,5%, abaixo da previsão para a inflação de 2004. Pouco mais de nove euros e exactamente para aqueles que ganham menos. Espantoso e cruel. Depois de anos e anos em que o smn cresceu sempre mais do que a inflação, eis o primeiro sinal que este governo vem dar para 2004. Somos fortes com os fracos e os fracos ficam com a fava. O bolo é sempre para os fortes. É este o país que o dr. Barroso e o dr. Portas querem. PAS
 
As palavras
The hand that signed the paper felled a city
Dylan Thomas

Ao escrever sobre o que sentimos acabamos por vezes a sentir o que escrevemos porque o escrevemos. Explico-me. Às vezes, escrevem-se coisas porque vão umas com as outras, porque rimam significados ou simplesmente ficam bem. Porque as palavras procuram outras de uma certa maneira irrecusável. E depois já está. As palavras possuem esse poder de moldar o que a mão ao escrevê-las queria dizer. Escrever não é um acto de um sentido só, uma espécie de rua de sentido único entre o que temos dentro e o que aparece de fora, escrito. Este «de fora» que parece ser a escrita, se molda o que depois ao ler sentimos, é porque está ainda «de dentro». Mas às vezes o cansaço apodera-se de nós, e temos vontade de parar. Não sei se de escrever se de sentir, possivelmente de estar sempre a pensar nisso. Parar: vontade de fechar os olhos e ver. RB
 
Isto só lá vai à canelada: Tou-me cagando para vocês. Nesta quadra natalícia, o único blogue que me interessa é o tomara que caia. FN
segunda-feira, dezembro 22
 
O melhor do mundo são os velhos : Este fim de semana foram apanhados mais dois condutores em contra-mão nas autoestradas. Pensei imediatamente que estávamos perante novos ataques da rede terrorista de idosos que, de acordo com relatos da comunicação social, tem actuado ultimamente na península ibérica. É de facto muito fácil atirar as culpas para cima dos velhos. Mas não nos podemos esquecer que as pessoas que têm hoje 70, 80 anos habituaram-se a conduzir quando o engenheiro Ferreira do Amaral andava de fraldas, e a única autoestrada que havia era a que ligava Lisboa ao Estoril. Como é óbvio, não lhes entra na cabeça que uma via com várias faixas possa ter um só sentido.
Até aos 30 anos, as pessoas estudam, viajam, descobrem novos autores, novas bandas, novas pessoas. A partir daí é só fazer «copy paste». Ora, as autoestradas representam para a condução aquilo que em ciência se chama «corte epistemológico». No fundo, havia uma «ciência normal», ou melhor, uma «condução normal» (pré-autoestradas), cuja lógica, de um momento para o outro (e sem aviso), foi completamente alterada por um novo paradigma (introdução de autoestradas). Quando o Prof. Cavaco inaugurou a A1, as cartas de condução dos maiores de 30 anos deviam ter caducado imediatamente. Como é costume, o eleitoralismo foi inimigo do bom senso, e os resultados estão agora à vista.
Assim de repente, pode parecer absurda a dificuldade que os mais velhos têm com as autoestradas, as escadas rolantes ou as viagens de avião. Ainda este fim de semana, por exemplo, o Dr. Mário Soares - um europeísta convicto - reconhecia que «fazer viagens todas as semanas para Bruxelas e Estrasburgo é uma verdadeira tortura». Mas tentemos pôr-nos, por momentos, no lugar deles. Imaginemos que em 2030 se concretiza o projecto de Bush: o Homem vai poder passar férias na Lua ou até mesmo em Marte (com descontos na época baixa). Qual de nós – então já na posse do «cartão turismo sénior INATEL» - é que se vai atrever a entrar nessa «perigosa loucura»? FN


 
O melhor do mundo s?o os velhos : Este fim de semana foram apanhados mais dois condutores em contra-m?o nas autoestradas. Pensei imediatamente que est?vamos perante novos ataques da rede terrorista de idosos que, de acordo com relatos da comunica??o social, tem actuado ultimamente na pen?nsula ib?rica. ? de facto muito f?cil atirar as culpas para cima dos velhos. Mas n?o nos podemos esquecer que as pessoas que t?m hoje 70, 80 anos habituaram-se a conduzir quando o engenheiro Ferreira do Amaral andava de fraldas, e a ?nica autoestrada que havia era a que ligava Lisboa ao Estoril. Como ? ?bvio, n?o lhes entra na cabe?a que uma via com v?rias faixas possa ter um s? sentido.
At? aos 30 anos, as pessoas estudam, viajam, descobrem novos autores, novas bandas, novas pessoas. A partir da? ? s? fazer ?copy paste?. Ora, as autoestradas representam para a condu??o aquilo que em ci?ncia se chama ?corte epistemol?gico?. No fundo, havia uma ?ci?ncia normal?, ou melhor, uma ?condu??o normal? (pr?-autoestradas), cuja l?gica, de um momento para o outro (e sem aviso), foi completamente alterada por um novo paradigma (introdu??o de autoestradas). Quando o Prof. Cavaco inaugurou a A1, as cartas de condu??o dos maiores de 30 anos deviam ter caducado imediatamente. Como ? costume, o eleitoralismo foi inimigo do bom senso, e os resultados est?o agora ? vista.
Assim de repente, pode parecer absurda a dificuldade que os mais velhos t?m com as autoestradas, as escadas rolantes ou as viagens de avi?o. Ainda este fim de semana, por exemplo, o Dr. M?rio Soares - um europe?sta convicto - reconhecia que ?fazer viagens todas as semanas para Bruxelas e Estrasburgo ? uma verdadeira tortura?. Mas tentemos p?r-nos, por momentos, no lugar deles. Imaginemos que em 2030 se concretiza o projecto de Bush: o Homem vai poder passar f?rias na Lua ou at? mesmo em Marte (com descontos na ?poca baixa). Qual de n?s ? ent?o j? na posse do ?cart?o turismo s?nior INATEL? - ? que se vai atrever a entrar nessa ?perigosa loucura?? FN


 
Duelos imprevistos
Ontem ? noite, na SIC Not?cias, Manuel Monteiro (MM) e Ruben de Carvalho (RC) discutiram a despenaliza??o do aborto:
MM ? Em primeiro lugar, com toda a sinceridade, permitam-me que diga que esta n?o ? uma mat?ria priorit?ria para os portugueses.
RC ? V? dizer isso ?s mulheres portuguesas!
MM ? Voc? n?o percebeu o que eu disse.
RC ? Voc? ? que n?o percebe o que est? a dizer...
MM ? Ruben, voc? n?o est? a ser correcto comigo. Eu fui correcto consigo. Eu estou particularmente ? vontade para falar sobre esta mat?ria porque nunca estive numa situa??o de facto...
RC ? Pois, nem podia, n?o ? Manel?
MM ? N?o, o que eu queria dizer ? que nunca estive com ningu?m...
RC ? Ah bom! ? Manel, isso ? l? consigo...
MM ? Desculpe, n?o brinque: isto ? um assunto s?rio!

FN

 
Portugal no seu melhor: Em Portugal, até ver, existem partidos, deputados, governantes e tribunais. Mas também há coisas únicas. Em mais nenhuma democracia encontramos «independentes» na política partidária, políticos a fazer de «analistas» e apoiantes profissionais de candidaturas presidenciais, como este senhor. FN
 
Parece um post do Companheiro Secreto:
«O Papai Noel é muito importante, mas não se esqueçam que o Natal é a festa do menino Jesus
Mensagem de Edson Arantes do Nascimento, "Pelé", Sportv, 24 de Dezembro de 2003
FN

 
Companheiro, aqui estou: Fui uma vez a Roma, mas não tive a felicidade de ver o Papa. Os guardas não me deixaram entrar no Vaticano: estava de calções, o que, pelo menos no meu caso, constitui um espectáculo indecoroso. Nessa viagem, comprei uma t-shirt filosófico-futebolística que tinha estampada uma frase de P.P. Pasolini: «Il tifo é una mallatia giovanile che dura tutta una vita». Aparentemente, o catolicismo progressista é como a febre do futebol: uma doença infantil que se prolonga pela vida fora. Basta ler o Manuel do companheiro secreto - o simpático blogue dos seguidores das «pintasilgas descalças» - para se perceber isso. A propósito do aborto, o Manuel revela o seu ódio às sociedades modernas, democráticas e liberais: o consumo, o prazer e a qualidade de vida são apresentados como pecados capitais. Sugere o Manuel que, «do PP ao Bloco de Esquerda», há «uma rigorosa e unânime coincidência - a do homem com a ceirinha dos "achats"». Depois de ler o Manuel, e como quero acreditar que o dr. Louçã já se curou das doenças infantis, a única «coincidência rigorosa e unânime» que eu consigo descortinar no espectro político é mesmo entre os Companheiros Secretos e Bagão Félix. Parafraseando o nosso primeiro-ministro, eles são «os genros com que qualquer sogra sonha». FN
 
Alma Lusa Ando, como aparentemente todos os portugueses menos dois, a compras de Natal. Este ano, em vez de andar pelos malfadados centros comerciais, e também meio por preguiça, meio por neura, fiquei-me pelo bairro e suas extensões. Foi o que fiz de melhor. Não só comprei tudo o que queria em algumas horas, subindo da Alexandre Herculano para o Rato e descendo a Rua de São Bento, como descobri uma loja fantástica. Chama-se Alma Lusa, fica no cimo da Rua de São Bento, e só tem coisas boas e bonitas para a vida, feitas exclusivamente por designers portugueses. O atendimento é caloroso, ou então era de ser eu. Uma loja é boa quando é como esta: entrei a pensar que já tinha feito as compras todas mas a loja mostrou-me que havia muitas mais prendas a comprar das quais nem sequer suspeitava, que eu não sabia que devia absolutamente comprar. RB
 
Merde in France: Escrevemos aqui na semana passada que «O funcionamento de uma sociedade democrática implica a adesão de todos a um conjunto regras constitucionais básicas. Para além disso, o Estado não tem que se intrometer na vida de ninguém. Não compete ao Estado criminalizar as mulheres que, em consciência, decidiram interromper uma gravidez.» Alguém disse nos comentários que, para os relativos, o Estado só não se deve intrometer «quando não lhes convém». Penso que não é esse o caso. Pela minha parte, aplico este princípio ao aborto como a qualquer questão de consciência individual. Da mesma forma que acho que não compete ao Estado julgar mulheres que abortam, também acho que não compete ao senhor Chirac proibir as jovens muçulmanas de usarem véu nas escolas. A escola pública, como qualquer instituição estatal, é laica e despida de simbologias religiosas. Sem dúvida que sim, e ainda bem. Mas quem a frequenta deve ser livre de se vestir e de se relacionar com a religião como muito bem entender. A decisão do Estado francês representa uma grande asneira da «velha Europa». Mais uma para o João acrescentar à lista. FN
 
Por uma vez de acordo: Por princípio, mas, também, por experiência semanal, discordo das opiniões de António Barreto. Muito louváveis, mas apesar das falsas aparências, pura e simplesmente são de outra área política. Não há volta a dar. Mas, esta semana, tendo a concordar. Com o início do texto. Com o início do texto.
"Curioso este nosso país que, nos momentos difíceis, encontra derivativos para se preocupar, ou antes, para deliberadamente ocultar o que causa ansiedade e provoca sofrimento.
Estranho este nosso povo que, diante de problemas sérios, tem tempo e atenção para se ocupar de peripécias desinteressantes.
Bizarra esta classe política que, com dificuldades e problemas reais, a exigir estudo ponderado e acção firme, se volta para bolhas titilantes de inutilidades políticas!
A eleição do próximo Presidente da República, a anos de distância, já excita a imprensa dita séria e a que alegadamente o não é, unidas neste assunto fútil e apostadas em convencer o povo de que se trata de debate político de primeira grandeza."
PAS
domingo, dezembro 21
 
STRUGGLE FOR LIFE

Sim, bem sei que o tablado em que figuro
Longe está bem de mim léguas e léguas.
Minhas pupilas viam longe...e eu cego-as;
Mas sei que finjo achar o que procuro.

Sei que o meu sonho é imenso e anseia ar puro,
Mas, no meu gabinete o meço a réguas.
Sei que devo aguardar, velar sem tréguas,
Mas busco o sono e embrulho-me no escuro.

Sei que este meu aspecto dúbio, fez-mo
a vida em que o meu Ser supremo e belo
e os meus gestos indómitos não cabem.

Sei que sou a paródia de mim mesmo.
Sei tudo...E para quê?, porquê sabê-lo?
Viver é entrar no rol dos que o não sabem!

José Régio Biografia (1ª ed. 1929)

RB
sábado, dezembro 20
 
We move like cagey tigers, we couldn't get closer than this... Na verdade, é sempre difícil dizer se isso seria possível ou não. Mas a vulnerabilidade é uma condição que me agrada, e o último álbum de tricky seria bom mesmo sem a brilhante versão de lovecats. MC
 
24Horas: mais cedo do que tarde, o seu jornal de referência Ontem apanhei o metro para Telheiras para ir ver se me tinha saído uma casa da EPUL. Não saiu, mas isso agora também não interessa nada. O que interessa é que, para ter qualquer coisa que ler na viagem de metro, comprei o 24Horas. Ia ligeiramente constrangido, devo confessar. É que, a partir de certa altura, reparei que toda a gente olhava para mim. Ou mais exactamente para o jornal, que lá ia folheando a custo por entre encontrões. Eram cabeças que se viravam, vultos de corpos que se aproximavam, olhares interessados que em mim se focavam. Para ver melhor. Um 24Horas aberto na página 2 dentro do metro provoca nos meus concidadãos um efeito semelhante ao efeito provocado em mim pela Caras desta semana aberta nas páginas da reportagem com a Ana Afonso. 24Horas: um jornal que mexe com os outros. RB
sexta-feira, dezembro 19
 
O eterno retorno É uma sina: as questões mal resolvidas, ou de todo por resolver, voltam sempre. O ciclo pode ser mais ou menos longo, e pode demorar mais ou menos até que nos vejamos confrontados com o que não queremos encarar. É sempre uma opção. Mas os problemas, sobretudo os mais sérios, voltam. É por isso que a questão do aborto em Portugal está sempre a aparecer e a desaparecer - da agenda política, entenda-se, porque nunca desaparece da realidade dos muitos milhares de pessoas que se vêem sujeitas a conviver, de longe ou de perto, com a humilhação cívica e íntima de uma lei pouco menos que vergonhosa. Suspeito que os ciclos de silêncio se vão encurtar. Até isto, finalmente, se resolver. MC
 
Mais que perfeito: gostamos destas miúdas. FN; MK; MC; PAS; PM; RB
quinta-feira, dezembro 18
 
Antropologia visual A minha dentista teve há uns tempos uma excelente ideia: passou a ter no consultório uma televisão ligada sem som na sic notícias, para os pacientes terem paciência e irem olhando, tão distraidamente quanto conseguirem, enquanto ela se entretém com os seus perversos brinquedos. Hoje fui premiado com a ida mensal do governo à assembleia da republica. E percebi como o peso das palavras é tantas vezes sobrevalorizado. Mesmo os rodapés insistentes e cheios de citações que iam legendando o debate eram desnecessários.

Aquela performance colectiva, feita da oscilação ritmada de rostos e corpos que desfiam ora veêmencia ora interrogação, poses e gestos muito codificados, ímpetos e pausas, sorrisos, aplausos, manifestações de desagrado, dispensa, na verdade, quaisquer palavras. É estranho, mas num espaço público em que a palavra e o argumento constroem a substância do que ali se passa, a funcionalidade mantém-se sem esse centro de gravidade. O silêncio, ou em alternativa qualquer banda sonora, como o ruído indiferente dos intrumentos do dentista, serve-lhe na perfeição. MC
 
Quem manda no governo: parece-me que há uns meses, debaixo de uma chuva de críticas, já tinha ouvido falar do peso excessivo da direita radical. Mas há coisas que, sendo verdade, demoram a fazer o seu caminho. Os últimos dias demonstram que há, de facto, quem viva obcecado com os ajustes de contas com o passado. PAS
 
Como comer Jaquinzinhos sem espinhas A «aula exemplar» em que a direita da blogoesfera quis transformar os eventos de 13 de Dezembro, com chamadas de castigo ao quadro e tentativas de enfiar a carapuça aos blogues de esquerda, pareceu-nos instrutiva a vários títulos.

Em primeiro lugar, não percebemos em que é que a captura de Saddam Hussein veio alterar a irrefutável ilegalidade da guerra do ponto de vista do direito internacional, já para não entrar na inevitáveis consequências que a inexistência de armas de destruição maciça não pode deixar de provocar sobre uma argumentação que sobre elas assentava. Em segundo lugar, não percebemos em que é que a captura de Saddam Hussein veio alterar o juízo negativo consensual sobre a forma desastrosa como o pós-guerra estava - e, em larga medida, continuar a estar - a ser gerido pelas forças coligadas. A não ser que se sugira que a captura de Hussein vem retrospectivamente branquear tudo o que de ilegal e de puramente falacioso tem acontecido. Mas o que sucedeu no Domingo foi uma vez mais a direita a tentar fazer o número de embaraçar a esquerda com a suposta incapacidade desta para ficar contente com a captura de Saddam. Ora isto de discutir não é como ir à inspecção militar e executar docilmente os testes psicotécnicos no «contentómetro» operado pela direita a seu bel-prazer e ficar à espera do resultado a ver se ficámos safos. Dito isto, não deixa de ser curioso que a direita bloguística assuma o papel de controleiro do contentamento alheio. Como se sabe, a figura do controleiro paira por bandas que a direita nem sequer ousa pisar.

Percebemos também que os blogues de direita são muitos hábeis e propensos a coligarem-se, a se linkarem uns aos outros (este com este, com este, com este, com este, com este, só para dar alguns exemplos), até com diferenciação funcional de papéis, e de atacar em bloco, de fazer abater uma espécie de barragem de fogo. A esquerda opta pela via contrária: a resposta é tendencialmente sempre individualizada, blogue a blogue, e ninguém linka ninguém para as respostas ou para dar espessura aos argumentos. Claro que não nos eximimos a esta constatação. À barragem colectiva respondemos (este, este, este, este, este ou este, por exemplo) individualmente, o que enfraquece as repostas enquanto resposta colectiva. Há aqui, decerto, matéria para reflexão, a começar por esta pergunta: porque é que somos incapazes de, não digo nos coligar, mas sequer de nos linkarmos, sobretudo quando somos atacados nos termos de uma definição colectiva – como aqui?. PM/RB

 
DAR O NÓ
- Vou dar-te um nó no cabelo para não to dar na cabeça.
- Antes assim. O cabelo pode cortar-se.

Bibliografia seleccionada:
Philip Roth, Deception Simon & Shuster (1990).

RB
 
Sensibilidade e bom senso:
Meu caro Pedro,
Peço desculpa de só agora responder ao teu apelo. Os meus últimos dias têm sido complicados, estive no interior centro, depois no interior sul, para depois voltar ao centro, mas desta feita perto do litoral e só agora regressei a Lisboa. Andei afastado dos blogues, mas ainda assim fiquei mais descansado quando soube que os meus camaradas relativos já tinham ido ao quadro cinquenta vezes. Dessa safei-me. Mas, meu amigo, deixa-me que ainda assim te diga duas ou três coisas.
Em primeiro lugar, que pensava que era claro que este blog não tinha contraído nenhuma obrigação de marcar a agenda ou de ser porta-voz do que quer que seja, designadamente do PS. Aliás, essa etiquetagem constante também levou a que noutro sítio metesse o socialismo na água. Gosto de separar as coisas, mas abro uma excepção. Fica sabendo que o José Vera Jardim, um camarada que me habituei a admirar desde sempre, por muitas razões, e nos últimos tempos também por algumas indizíveis, falou por todos nós socialistas (e relembro que neste blog há quem não o seja). Mas também aproveito para te dizer que não consigo perceber porque é que a direita que apoiou e apoia esta guerra estúpida, tem sempre essa obsessão com os votos de fé na democracia. Deixa-me que te diga que parece coisa de recém-convertido. Para mim, já bastavam o sr. Bush e o Dr. Barroso com a conversa patética da opção entre democracia e tirania. Nós, por aqui, estamos sempre do lado da democracia, mas, precisamente por isso, somos muito mais exigentes com os regimes democráticos. É que nenhum de nós se converteu recentemente a nada para precisar de fazer profissões de fé.
Mas, já agora, enquanto sublinho a minha satisfação sempre que um tirano é levado à justiça dos homens, deixa-me que te diga que acho que, mais uma vez, a administração Bush demonstrou que tem um problema constante com a sensibilidade e com o bom senso.
Um problema com a sensibilidade porque a superioridade moral das democracias (e ela existe) radica, entre outras coisas, na capacidade de tratar os seus inimigos com uma dignidade e um sentido ético que não está ao alcance das tiranias. O Paulo Varela Gomes chamava a atenção ontem, numa carta no Público, para a forma como a mãe dele, vítima da perseguição política da PIDE, tinha ficado indignada com alguns episódios em que, depois do 25 de Abril, os agentes desta polícia tinham sido humilhados gratuitamente. Se queres que te diga, a mim, como democrata, enoja-me a humilhação que está patente nas imagens que a propaganda norte-americana fez passar da detenção de Saddam. Deve ser um lado cristão que tenho ou é mesmo o facto de ser democrata, mas, por exemplo, não gosto que se examinem os dentes de um homem em público, como se de um cavalo a quem se vê a idade se tratasse.
Mas, também, um problema com o bom senso porque, mais uma vez, todo o realismo a que deve obedecer a política internacional foi violado. Quando vi o Saddam achei que os norte-americanos tinham encontrado o tio Walt Whitman, afinal aquela barba dava-lhe um ar de herói romântico. Ora, manda o bom senso que não se some aos problemas que o mundo já enfrenta, de forma particularmente intensa naquela zona, a criação de um novo herói, que só servirá para alimentar ainda mais ódios e paixões. Todo este processo contribui para isso. O que nos faltava mesmo era dar trunfos aos inimigos da democracia. Desculpa que te diga, mas o sr. Bush é um especialista reincidente nessa arte.
Hoje, como há um ano atrás, parece-me que só há uma solução para o problema do Iraque: um envolvimento total das Nações Unidas, que devem ser o centro de tudo. Concordas que nunca é tarde para os democratas se entenderem sobre isso?
Desculpa ter-te tomado este tempo, mas aqui vai também um abraço amigo,
Pedro
PS
Já ouviste o cd?
PAS
quarta-feira, dezembro 17
 
Cada coisa no seu sítio: meus caros, o inferno não conhece fúria maior do que a de uma espécie classificada de modo errado. Nós estamos aqui para nos ajudarmos uns aos outros. Um abraço amigo. PR
 
Descriminalizar o aborto: O funcionamento de uma sociedade democrática implica a adesão de todos a um conjunto regras constitucionais básicas. Para além disso, o Estado não tem que se intrometer na vida de ninguém. Não compete ao Estado criminalizar as mulheres que, em consciência, decidiram interromper uma gravidez. Nenhuma mulher aborta por abortar. Mas num Estado de Direito Democrático as leis são para se cumprir. Não faz nenhum sentido atacar um sistema judicial que acusa pessoas da prática de aborto. O sistema judicial está apenas a aplicar a lei. O que faz sentido é aperfeiçoar e, a prazo, mudar a lei. A descriminalização do aborto seria um passo importante. Permitiria, no imediato, uma amplo consenso político e social entre esquerda, centro-direita e alguns sectores da Igreja Católica - numa lógica bem diferente daquela que opôs, no referendo de 1998, as beatas «juntas pela vida» às hippies do «aqui mando eu». Para alguns, a descriminalização seria o limite; para muitos, seria um passo no sentido da despenalização e da criação das condições necessárias à prática da interrupção voluntária da gravidez. Mas isso só mesmo com um novo referendo. País Relativo
 
Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões: Há cerca de dois anos, antes das legislativas, o Pedro Magalhães escreveu um excelente artigo em que dava a receita eleitoral à direita portuguesa. Se bem me recordo, nesse artigo ele chamava a atenção para o facto de estar a emergir um novo tipo de eleitor: liberal na economia, mas também nos costumes. Alguém que desconfia do sector público e das políticas redistributivas, mas que é tolerante em matérias como a diversidade cultural, a sexualidade, o aborto, etc.: os chamados «temas fracturantes». De facto, o aborto era até há algum tempo dos poucos temas que melhor definiam a fronteira entre esquerda e direita. Mas, até mesmo aqui, as tradicionais fronteiras eleitorais estão a esbater-se progressivamente. É por isso que na América e no Reino Unido começamos a ver antigos ultra-conservadores subitamente cheios de «compaixão» e «tolerância» com as opções individuais. Foi esse, por exemplo, o percurso de Michael Portillo, depois de um coming-out nos tablóides ingleses. Por isso, ontem, quando ouvi o porta-voz do PSD, Pedro Duarte, a defender a descriminalização do aborto, pensei que os dirigentes da direita portuguesa estavam finalmente a chegar à «modernidade». Puro engano: ao fim da tarde, lá veio o porta-voz da direita ultramontana, o Dr. Nobre Guedes, «desautorizar» (expressão do Público) o pobre do Pedro Duarte. Parece que, à direita, tocar no assunto ainda «é pecado». Caro Pedro Duarte, deixe lá: como diria o Dr. Sá Carneiro, «hoje já são muitos, amanhã serão milhões». FN
terça-feira, dezembro 16
 
Anda tudo eufórico com a captura do Saddam. Eu também estou contente, mas pela minha parte não me sinto minimamente obrigado a escrever aqui sobre o assunto, até porque pelas minhas contas pelo menos 6,25 das cinquenta frases abaixo reproduzidas com apreciável labor me pertencem por direito. Devo, aliás, lembrar um ou dois detalhes insignificantes sobre este episódio.

Não sei se se lembram, há uns meses andava tudo eufórico com outro epílogo: o rápido e esmagador "fim" da Guerra - e que final feliz e grandioso tem sido, como se tem visto. Deviam ter aprendido alguma coisa. Em primeiro lugar, não é de todo claro o efeito prático de curto e longo prazo que esta prisão vai ter. A resistência não depende de Saddam, como bem se viu pelo castelo de cartas que era o aparato militar dos iraquianos, mesmo que tornado subterrâneo numa táctica de guerrilha e terrorismo. A prazo, a resistência é, naquilo que tem de essencial e de mais sustentável e estruturado, uma resistência anti-ocidental de matriz fundamentalista. Ora, os fundamentalistas gostam quase tanto do ex-ditador (que contra eles agiu no iraque, no irão, e onde quer que pôde) como os americanos dele gostaram nos últimos quinze anos.

Por outro lado, esta prisão tem, sim, efeitos simbólicos profundos, exponenciados pela forma como um Saddam sujo e desgrenhado foi exibido despudoradamente como troféu de Guerra, e pela forma perfeitamente hollywoodesca como a coisa foi anunciada e tratada. No Iraque, uma tirada ao melhor (pior?) jeito de um filme de acção (qualquer coisa como) "we got'im" foi a frase escolhida para anunciar a prisão, com imagens em grande plano de um homem barbudo a ser examinado ao pormenor. Já Bush, do outro lado do mundo, apareceu de sorriso auto-satisfeito e paternalista perante as câmaras (já repararam na semelhança sinistra com Durão Barroso?) a dizer, e cito de memória, que o ?povo iraquiano "wouldn´t have to fear Saddam's rule ever again". Ever again. E saiu, triunfante, da sala.

Tudo isto me parece muito bem, mas nem por isso muito inteligente. A exibição da vitória e da imensa superioridade dos americanos não tem dado muito bons resultados por estas paragens. O mesmo se pode dizer em relação às imagens de efusivos festejos de jornalistas iraquianos e da população em Bagdad. A questão não é o que é filmado, mas antes o que não aparece perante as câmaras. Cuidado com as mistificações. É que nem todos os iraquianos terão ficado felizes da vida, nem a prisão de Saddam acaba com o fundamentalismo, nem as vitórias americanas significam vitórias sobre a profunda resiliência anti-ocidental. Antes pelo contrário: esta alimenta-se de uma longa espiral de pobreza, guerra, ódio e humilhação, fomentados contra um inimigo estranho que agora está mesmo ali à mão, na incómoda pele de agressor, estrangeiro, ocupante. MC

 
CATCH ME IF YOU CAN
Caro Pedro,
Não sei bem o que lhe diga. Li e reli o seu post e continuei a não perceber. Ou por outra: percebi logo que era um ataque pessoal, mas sem mais. Não discute o Bourdieu, não discute a sociologia (entre nós: faz muito bem). Discute-me a mim (obrigado). Quer dizer, mete-se comigo, faz insinuações, sugere deformações. O vulgar de Lineu. Como deve calcular, não me vou pôr a desmentir efabulações em relação à minha personalidade. Que poderia eu alegar? Que não sou, de facto, o monstro de presunção que, com efeito, aparento ser? Que a única coisa que verdadeiramente me embevece hoje em dia são as filhas de Bourdieu, e não propriamente o Pai? Se lhe parecem plausíveis a si – as suas alegações –, é porque sem dúvida alguma um fundamento qualquer possuirão. Tenho, aliás, muito gosto em continuar a contribuir para que o Pedro exercite a sua fina ironia e para o aumento das nossas respectivas audiências. Só é pena, a meu ver, verdadeiramente não se perceber o que o Pedro quer dizer. Não é um problema de português – é um problema seu. Ademais, tal não seria demasiado difícil: afinal, como pretende demonstrar o seu post, não é todos os dias que se apanha um saco de porrrada tão bom como eu. Voltemos ao princípio, e para acabar. Ao lê-lo, pensei: «Isto é o gajo a gozar comigo não é? Pois, é. Deve ter razão». RB
 
IR AO CASTIGO
Na aula de 13 de Dezembro, o Professor Mexia mandou-nos ao quadro de castigo, escrever cinquenta vezes a frase:

ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM. ESTAMOS CONTENTES COM A CAPTURA DO SADDAM.

País Relativo
segunda-feira, dezembro 15
 
Lamento, mas este post não é sobre o Saddam: Passar as tardes de sábado a ler jornais é das coisas mais divertidas que pode haver. No Público, por exemplo, Luís Nobre Guedes dizia que «a mãe de todas as reformas é a luta contra o Estado tablóide que se instalou em Portugal». Mas desengane-se quem pensar que ele estava a referir-se ao facto de o seu amigo Portas estar instalado no Forte de S. Julião da Barra. No DN do mesmo dia, o mesmo Nobre Guedes considerava o dia da manifestação de apoio a Paulo Portas (realizada no Caldas, no ano passado, por causa da Moderna) «um marco na história do país». Algo só comparável ao dia da Restauração. Por este andar, ainda vamos ver o ministro Bagão defender que se torne dia feriado.
Em entrevista ao Expresso, como que a provar que o dr. Nobre Guedes não tem o exclusivo da inteligência política, a eurodeputada Maria Carrilho, na senda de Louçã, e nas vésperas de uma cimeira intergovernamental em que nada ficou decidido, defendeu, com muita convicção, que «deve haver um referendo sobre a Constituição Europeia perto das eleições europeias». É certo que no dia das eleições europeias não pode haver referendo: há um pequeno pormenor impeditivo chamado Constituição da República Portuguesa. Mas podia ser «ou pouco antes ou pouco depois. Deveríamos aproveitar a onda», sugere a eurodeputada. «Aproveitar a onda». Como é sabido, nas eleições europeias de Junho, os portugueses não costumam desaproveitar as ondas.
Por fim, uma pequena correcção. O Expresso (Ângela Silva e Sofia Rainho), na sua nobre tarefa de travar a candidatura presidencial do doutor Lopes, escreve, na página 8, que «O artigo de Pacheco Pereira, motivou-lhe [a Santana Lopes] o seguinte comentário: «quem não consegue ganhar eleições chama aos outros populistas», um remoque que esquece a vitória de Pacheco nas europeias e que revela a crescente tensão entre santanistas e cavaquistas.» Não duvido que haja «tensão entre santanistas e cavaquistas», mas uma coisa é certa: a única eleição que Pacheco Pereira ganhou foi para a distrital do PSD de Lisboa. Perdeu autárquicas (Loures), perdeu legislativas (Porto) e perdeu as ditas europeias (1999), tendo sido esmagado por Mário Soares. Os resultados oficiais estão aqui. Nada me move a favor de Santana ou contra Pacheco (tomara eu que Santana tivesse o mesmo sucesso de Pacheco). Mas, como diz Manuel Alegre, precisamente na coluna de opinião ao lado da citada notícia, «As vitórias do esquecimento são sempre derrotas da liberdade». FN

domingo, dezembro 14
 
Finalmente, chegam boas notícias de Bagdad. Estive à espera dos testes de DNA, e os resultados não enganam: ao contrário do que sucedeu com o perú de Natal, este é mesmo o ditador Saddam. Em carne e osso. FN
sábado, dezembro 13
 
Amostra representativa: No metro, algures entre o Rato e Entrecampos, entram duas jovens universitárias. Uma delas, mais «politizada», era a «picareta falante» em pessoa. Às tantas, utiliza as palavras mágicas: «Universidade Lusíada». Faz-se um clique, e toda a carruagem pára para ouvir:
«Aquilo é uma vergonha...Acho que o Durão dava lá aulas e o pai do Martins da Cruz é tipo [expressão recorrente] Reitor ou Director, ou lá o que é [Carlsberg, Spielberg, é tudo a mesma coisa]. Ontem, ainda veio o Ministro do Governo [deve ser o Ministro da Presidência] dizer que aquilo é tudo legal, e que eles assim como Fundação até vão pagar mais impostos. Está-se mesmo a ver, não é? Se fosse para pagar mais impostos para que é que iam mudar para Fundação?! [A outra cala e consente, completamente esmagada pela cultura enciclopédica da amiga] Então e a GNR? Foram indigitar um comandante sem verem primeiro se ele tinha a folha de serviços limpa... Isto é tudo à balda. É deprimente, pá! Olha, vamos sair.» FN

 
A SOCIOLOGIA É UM DESPORTO DE COMBATE

Ficha de leitura de “A Dominação Masculina” de Pierre Bourdieu, escrita em 2001 (redigido em sociologês, para o qual não peço desculpa, peço paciência).

A recepção muito favorável do trabalho de Pierre Bourdieu, tanto em França, como em Portugal, até meados do anos oitenta, transformou-se, na década seguinte, num azedume crítico generalizado. Essa crítica coincidiu com a difusão sistemática da sua obra no espaço anglo-saxónico, no qual se confrontou com a teoria da estruturação de Giddens e com a recepção norte-americana da arqueologia do conhecimento de Foucault. No mesmo período, atingiu o topo da carreira profissional: de professor no Collège de France, chegou à direcção da École des Hautes Études en Sciences Sociales.
Aquele cuja perspectiva teórica supunha a crítica radical da ordem aparente das coisas, em especial das formas naturalizadas de dominação quaisquer que elas fossem, havia agora ascendido a uma posição de poder quasi-hegemónica. A essa posição correspondia um capital, não meramente cultural, mas também simbólico, económico e social. Será que a sua teoria se transformou ela própria em “doxa”, operando como princípio legítimo da visão e divisão do campo científico, ou seja, como uma das formas de violência simbólica por ele tão criticadas? Ainda por cima, uma teoria que oferece uma resposta determinista para a dicotomia acção vs estrutura. Em Bourdieu, a eficácia dos mecanismos de reprodução social é tal que desencorajaria a possibilidade de uma acção revolucionária. Ciente destas questões, procurou recuperar alguma frescura e dar resposta aos muitos críticos. Desde logo, em “La Misère du Monde”, de 1993, desarmadilhando as leituras de vulgata do seu trabalho e surpreendendo do ponto de vista metodológico. Depois, recuperando as suas investigações antropológicas, editando, em 1998, “A Dominação Masculina”; e reeditando, em 2001, “Esquisse de une theorie de la pratique”.
Bourdieu vê na dominação masculina o efeito daquilo a que chama violência simbólica. A dominação opera através de um processo de naturalização que transforma o arbitrário cultural em facto natural. Mas, como pensar o problema da dominação a partir de categorias de entendimento que não sejam elas próprias fruto desse mesmo processo? Como lhe é usual, propõe a ruptura com a ilusória familiaridade do que é evidente. Fá-lo, todavia, de forma inovadora, regressando aos camponeses berberes da Cabília. O facto da sociedade cabila apresentar o princípio androcêntrico sob forma arquetípica permite-lhe efectuar uma “arqueologia do inconsciente” dos cabilos – mas sobretudo do Ocidente. Do vai-vém constante entre a sociedade cabila e a ocidental ressaltam permanências e homologias. Para as compreender, executa um “trabalho histórico de deshistoricização”, ou seja, historia os mecanismos e instituições encarregados de reproduzir a ordem androcênctrica, como a família, a escola, a Igreja e o Estado. Só esse trabalho, e não meros voluntarismos activistas, poderá aspirar à progressiva extinção da dominação masculina.

Em 2001, eu não gostava especialmente de Pierre Bourdieu. Quando entrei no curso de sociologia, dava-se Bourdieu de chofre, rapidamente e em força, antes mesmo de Durkheim, Weber ou Gramsci, de cujas teorias a sua é em larga medida um baralhar e voltar a dar. Achava, e acho, a sua teoria pessimista e, dele, que era uma sacana. Depois, irritava-me que nunca tivesse virado a sua teoria sobre si próprio, e que, ao contrário de Hirschman, não tivesse uma “Propensity for Self-Subversion”.

Ficha de leitura de “La Sociologie est un Sport de Combat”, documentário sobre Pierre Bourdieu que vi anteontem na Culturgest.

«O tipo que têm à frente é Bourdieu, não é Dieu», Said, magrebino assistente social num bairro suburbano, intervindo numa acesa discussão perto do final do documentário.
«O que faz falta é um movimento social. Queima-se um carro...vem a polícia...e pronto. O que faz falta é um movimento social: queimar o carro, mas com um objectivo», Pierre Bourdieu, sociólogo, passeando na rua, à saída da dita acesa discussão.

Não foi a reconciliação total, mas foi quase. E já não acho que ele seja um sacana como pessoa, o que ajuda. Percebi que se ria com gosto de si próprio, que fazia piadas e que lhe pesava ser o manipulador da marioneta “Pierre Bourdieu, o deus da sociologia”. Continua a não virar a sua teoria sobre si próprio, mas, a propósito do lançamento de “A Dominação Masculina” em Barcelona falou longamente, e suspeito que com sentido auto-biográfico, do “sofrimento do dominante”. É, era, um começo. Pierre Bourdieu morreu em 23 de Janeiro de 2002.RB
sexta-feira, dezembro 12
 
Como se não bastasse o senhor Soros a atacar a globalização, agora temos o senhor Shell a patrocinar o pintasilguismo. FN
 
O HUMOR TEM O CORAÇÃO NAS TREVAS
Stand-Up Tragedy é uma peça interpretada por Tiago Rodrigues (Ricardo Magalhães) e escrita por Nuno Costa Santos e Luís Filipe Borges e é também um blogue. Pode não parecer, mas falar sobre o humor é uma coisa séria. Não são muitas as reflexões que conheço sobre o fazer humor, sobre o processo do humor. A peça Stand-Up Tragedy, em cena no Maria Matos, é uma delas.
Antes de falar da peça, vou falar da primeira coisa que a peça me fez lembrar: um filme chamado “Punchline”, de David Seltzer, com o Tom Hanks (Steven Gold), a Sally Field e o John Goodman. Mas há outros filmes que vêm logo à ideia, como o “Lenny” com o Dustin Hoffman e o “Man on the Moon” com o melhor Jim Carey. De volta ao “Punchline”. Steven Gold é o stand-up comedian nas muitas horas vagas do seu curso de medicina; é o aluno cábula, perenemente sem cheta, a enganar o pai que lhe manda uns vales pelo correio. Sally Field é a dona de casa que todo o dia faz tudo sempre igual e que tem o sonho redentor de fazer stand-up comedy, mas que vive a realidade de fazer o jantar para o loving husband – John Goodman –, criar os filhos e atamancar para as cortinas. O marido não compreende bem o sonho da mulher, custa-lhe os horários tardios e o ambiente dissipador dos bares. É pena o happy end só por ser previsível, concretizado na cena final em que o casal, entretanto desavindo, se reconcilia quando ela consegue enfim o sucesso enquanto humorista, o marido aprende a aceitá-la "como ela é" e Hanks, que a tinha ajudado com as piadas e levado para a cama, chora.
O filme fala de fazer humor. E falar de humor: terá piada? E se não tiver: será que é suposto ter? A peça Stand-Up Tragedy transita abruptamente da comédia para a tragédia através de uma inversão dos papéis esperados de quem pisa o palco e de quem se senta nas cadeiras. A peça procura – e consegue – desassossegar o espectador no conforto das cadeiras. Como? Estilhaçando meticulosamente as expectativas e os papéis esperados de um e de outro. O público leva com: «Vá lá, ri-te lá disto a ver se és capaz!...Então, já não acham piada ao cancro do meu pai...? Não se brinca com o cancro, não é?...ou é?»
Mas, de onde vêm as piadas de Gold, de onde vêm as piadas de Ricardo Magalhães? Quer dizer, de que matéria são feitas? Em que substância têm as raízes? Na amargura, na solidão e na privação. O humor não tem um fundo solar, mas escuro, escuríssimo. Parece uma flor de lótus que enfia as raizes na lama do pântano. Steven Gold e Ricardo Magalhães mostram que quem tem muita piada tem de costume um fundo sombrio, uma espécie de trevas não reveladas, a não ser dessa forma: a piada. É de lá que elas vêm. A peça não é nem uma crítica ao humor, nem uma crítica aos humoristas, nem uma agressão mais ou menos gratuita aos espectadores. Não: a peça tem a violência inevitável e necessária de uma dissecação, bastante realista.
A ironia típica da stand-up comedy, que não para perante nada nem ninguém, vem daqui também. No caso da personagem Gold, da vida maltrapinha que tinha, da relação conflituosa e fraudulenta com o pai e da amputação provocada por uma mãe precocemente ausente. No caso de Magalhães, da morte de um amigo num acidente de viação provocado pelo próprio estar a guiar bêbado, do cancro do pai transformado na melhor piada do liceu e do bestial fracasso da sua vida sentimental em contraste com o cada vez maior sucesso profissional como humorista.
O humorista ri de si. Todavia, o seu público ri-se, não dele, mas com ele. O stand-up comedian goza com o espectador, com tudo e todos. Ele não concebe limites ao universo das coisas “gozáveis” (assim o disse anteontem Bruno Nogueira na televisão, para algum escândalo de Ana Bola) porque goza em primeiro lugar consigo próprio. Ele é a sua primeira vítima e o seu mais implacável crítico. O humorista está sempre a um passo de desabar ou de desatar a chorar – ou da mais brutal “agressão”. Aliás, o impacto da peça é transmitido por aí, pela “agressão” ao público, e fá-lo bem. Começa por desafiar o papel ortodoxo do público enquanto público-de-stand-up-comedy-pronto-a-rir, passa depois pela invenção feliz da personagem do meu-maior-fã-que-deixou-de-rir e é levada ao extremo na cena em que Ricardo Magalhães dispara sobre o público. Esta forma radical de envolver o público no espectáculo, ao sugerir a utilidade da sua aniquilação, traça um paralelo com a cena do filme de Julian Temple, “The Greatest Rock-and-Roll Swindle”, em que o Sid Vicious, depois de interpretar uma versão pessoalíssima e genial do “My Way” de Frank Sinatra, acaba a disparar uma caçadeira daquelas para assaltar bancos sobre uma audiência que revelou ser upon closer inspection constituída por bonecos. É a última piada, literalmente the ultimate joke, a provocação final, mas é aquela que, e de regresso ao Maria Matos, leva de novo o fã-que-tinha-deixado-de-rir a uma derradeira risada, e logo daquelas de hiena. RB
terça-feira, dezembro 9
 
A Re-Recessão: Era um objectivo ambicioso e difícil, mas o governo do dr. Durão conseguiu. Cinco trimestres sucessivos em recessão, quer isto dizer que já há recessão do PIB quando comparado homologamente com trimestres também recessivos. É obra e principalmente para quem dizia que ia pôr o país a crescer acima da média da União. O desemprego, por exemplo, está a crescer SETE vezes mais do que a média comunitária. A pergunta só pode ser uma. Era mesmo preciso todo este desemprego, toda esta recessão, para, ainda para mais, ter um défice que, sem as manigâncias, seria de 5,2%? Onde é que pára a consolidação orçamental? PAS
 
O lugar dos mortos Este fim-de-semana passou por Lisboa uma banda de covers dos doors, ao que dizem uma das melhores do mercado, com algumas particularidades vagamente bizarras.

A primeira é que, em vez de tocar num qualquer bar de música ao vivo, aluga o pavilhão atlântico - o que os torna a maior banda de covers do mundo, tirando talvez os Oasis. A segunda, e talvez a mais curiosa, é o facto de dois dos três originais membros dos doors terem acedido a participar, trinta anos depois, numa caricatura de si próprios, agora envelhecidos e amputados do seu rosto, voz e alma. A terceira bizarria é que escolheram para completar a farsa dos doors post-mortem outro morto e enterrado há vários anos, Ian Astbury. Este rebelde rapaz, já um pouco entradote (a condizer com os outros, portanto), começou por ser gótico nos southern bad cult, abreviou a coisa e tornou-se cada vez mais rock-gótico-de-estádio nos cult, depois esforçou-se por arranjar um sotaque americano e dedicou-se só ao rock. O resultado de tudo isto, evidentemente, é que desapareceu do mapa sem deixar grande rasto há mais de dez anos. É legítimo que queira reaparecer (para quê?), como os outros, em vez de gozar uma merecida reforma que ninguém ousaria perturbar. Mas entrar directamente para o lugar do morto deve estar longe de ser uma opção confortável. Ainda assim, talvez seja a única. MC
segunda-feira, dezembro 8
 
Levanta-te e ri! O programa prós e contras da RTP colocou hoje uma daquelas questões que já trazem a resposta: Portugal tem uma política cultural? A páginas tantas, um Professor de Coimbra fala das dificuldades de gestão do projecto Coimbra Capital da Cultura. Resposta do Ministro Roseta: «Pois... a... pois... mas... a estrutura de projecto foi uma herança que me deixou o meu antecessor». Reacção da plateia: gargalhada geral. FN
 
O caso Odete Santos: Fui uma única vez à Festa do Avante. Achei que não era de esquerda (mesmo da liberal) sem ir lá pelo menos uma vez na vida. Jurei para nunca mais. Com a queda do Muro, desapareceram os restos do internacionalismo proletário, e o que eu encontrei na Atalaia foi uma reedição da Exposição do Mundo Português. Em vez do «chop soi» da Coreia do Norte e dos famosos charutos cubanos, só vi queijo alentejano, alheiras de Mirandela, caravelas dos Descobrimentos e galos de Barcelos por todo o lado. Pacheco Pereira dirá que isto significa que o PCP é hoje o único partido nacionalista português. Tem razão: representa um certo nacionalismo para um Portugal que já não existe. Não será por acaso que no sector intelectual do PCP há tantos aposentados do nacional cançonetismo e da revista à portuguesa. O PCP é hoje uma espécie de Casa do Artista da política portuguesa. É um partido que podia perfeitamente mudar a sua sede da Soeiro Pereira Gomes para o Parque Mayer (em vez do Gehry, tínhamos o Niemeyer).
Não percebo, por isso, a reacção do Daniel Oliveira à participação de Odete Santos na revista «Vá para fora ou vai dentro!» (título certamente inspirado nos métodos do Fidel). É certo que ainda haverá por aí quem aprecie o género - o género Odete e o género revista. Há, sem dúvida, um excesso de condescendência em relação à deputada Odete - que, por mais que me digam, não passa de um Tino de Rans com canudo. Mas, no fundo, o que ela faz no Parque Mayer é exactamente o mesmo que faz quando fala, por exemplo, da «democracia» na Coreia do Norte: um papel ridículo num espectáculo grotesco para uma audiência acéfala. FN

sexta-feira, dezembro 5
 
Um segredo bem guardado Num qualquer jornal, a popstar Margarida Rebelo Pinto confessou enfim o segredo do seu sucesso: "armei-me em esperta". No fundo, nada de muito novo. Só ficou por esclarecer o uso, claramente imprudente, do pretérito. MC
 
Será que este senhor leu esta notícia, ou a inusitada preocupação será apenas coincidência? PAS
 
curiosa frase: "os critérios adoptados não são economicamente justificáveis e têm de ser revistos, existindo apenas, por razões que podemos classificar como políticas, com o objectivo de forçar a criação de uma Europa a duas velocidades e de uma mini-União que a Alemanha possa dominar mais facilmente. Sendo assim, Portugal não deve sujeitar toda a sua política económica ao cumprimento desses critérios nas datas ainda formalmente previstas, e tem de manter uma política económica mais equilibrada, com a preocupação de crescer acima das taxas europeias." (Vitor Constâncio, Cadernos de Economia, nº27, Abril-Junho de 1994. p.66). PAS
 
Confissões de um Arquitecto: José António Saraiva (JAS) decidiu, em boa hora, publicar as memórias dos seus primeiros dez anos à frente do Expresso. «Confissões de um Director de Jornal» fala-nos dos jornalistas com quem trabalhou e dos políticos que conheceu, «tudo através do tom genérico que o autor opera semana a semana», segundo Jorge Henrique Bastos (Expresso, 15 de Novembro). Recorde-se que JAS exerceu arquitectura entre 1968 e 1983, operando de uma forma seguramente «genérica» e sem grandes estragos visíveis. Em 1973, o arquitecto não imaginava que dez anos depois estaria na direcção de «um dos maiores semanários portugueses do século XX» (se não mesmo o maior: 2700 páginas e 54 suplementos todas as semanas). Não imaginava o arquitecto nem imaginava ninguém. A responsabilidade da escolha foi de Augusto de Carvalho, então director-interino do Expresso, que «alia a manha de homem de província a um tipo de cultura que marca todas as pessoas que passam pelo seminário», nas palavras do próprio JAS. Apesar de editorialista, JAS decidiu continuar com a crónica «Política à Portuguesa», que já então «incomodava» gregos e troianos - se calhar por causa dos seus inconfundíveis «por um lado, e por outro». A crónica «tinha algum peso» num jornal já de si pesado.
Quem também não sai muito bem no retrato da família Expresso é Vicente Jorge Silva: «Faz lembrar o Alberto João Jardim numa versão mais intelectual». Curiosamente, há quem diga que Saraiva, pelo contrário, faz lembrar um intelectual numa versão mais Alberto João Jardim. Mais simpáticas são as referências a Marcelo Rebelo de Sousa: «fui influenciado em grande parte pelos escritos de Marcelo». Para quem lê semanalmente o Expresso, não deixa de ser estranho ver o verbo «ser» conjugado no passado. Não menos estranha é a razão da influência: «O Marcelo foi a primeira pessoa que ainda no tempo da ditadura começou a desvendar a política». Antes de Aristóteles e Platão, portanto.
Todo o capítulo X do livro é dedicado às relações do Director de Jornal com «os notáveis» da política à portuguesa. Aqui ficam alguns exemplos. Mário Soares, «apesar das aparências, ama o povo teoricamente». Santana Lopes, por causa das aparências, «é talvez o mais insinuante» e, como tal, deve amar o povo concretamente. Por fim, Dias Loureiro: «Ao contrário da ideia que transmite, é um homem que parece às vezes frágil». (Ora, aqui JAS parte de pressupostos muitíssimo discutíveis: que Dias Loureiro transmite ideias, e que, transmitindo-as, alguém, no seu estado normal, possa estar interessado em psicanalisá-las.) FN (com a colaboração do Expresso de 15 de Novembro).


 
Errata: No meu post sobre a engenheira Pintasilgo e a resistência anti-Freitas no ciclo preparatório, fiz referência ao meu amigo Pedro Estêvão, dizendo que ele era um "soarista da 2ª volta". Isto levou alguns leitores a pensar que ele apoiava a Pintasilgo. Como sei que isto é dos piores insultos que lhe podem fazer, que fique claro que ele apoiava um grande homem chamado Francisco Salgado Zenha. Por outro lado, enganei-me no link para o Pedro. Por email, ele fala-nos da sua verdadeira relação com a blogosfera:
"Aquele Pedro Estêvão não sou eu, com muita pena minha - seria bastante mais útil à comunidade se percebesse alguma coisa de discos IDE e buffers... Estou desolado. Já montei um site dedicado ao Sporting, participei em dúzias de newsgroups e mailing lists - e único traço que o Google reconhece é o desse gajo com o nome igual ao meu. Sinto-me um verdadeiro Jeffrey Lebowski do ciberespaço... Anyway, o endereço do meu verdadeiro blog é maoesquerda.blogspot.com. Por motivos vários, não actualizo aquilo desde Outubro, penso." FN


 
OBJECTS IN MIRROR ARE CLOSER THAN THEY APPEAR
Leiam isto.
RB
quinta-feira, dezembro 4
 
Factos são factos II: O secretário de Estado José Cesário continua a sua saga, algures, quiçá na América Latina, em declarações à LUSA, afirmou "que o que disse em Outubro à Rádio Renascença é exactamente igual àquilo que disse terça-feira na Assembleia da República." A única sugestão possível é que se ouçam as declarações feitas à RR e as proferidas esta semana. No meio de tudo isto, o silêncio da Ministra de que o Secretário Estado depende, Teresa Patrício Gouveia, começa a ser ensurdecedor. PAS
 
AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA DE BALNEÁRIO
ou a razão pela qual não atendo o telemóvel no balneário.
Não perder pitada disto:

Chega um, apoia o saco no chão.
O outro – É pá! Tás muita grande meu...!!!
Responde o que chegou – Tás bom...? Ah, é só creatina, mandei vir dos Estados Unidos, com mais umas vitaminas e umas merdas.
O outro – É pá...eu...eu é só Nestum com mel: ou fico grande ou fico maluco! Mas tás mesmo grande...
O que chegou, mudando-se para o equipamento de treino – Vais ao campeonato...? Queres vir comigo?
O outro – Campeonato o caralho que se foda [começa a pelar uma banana]. Só volto ao campeonato quando tiver sessenta anos [o meu telemóvel toca: não atendo, desligo]. A minha mulher não dá conta disto [pela a segunda banana, ainda mastigando a primeira], mas a ti não te vejo treinar...só se vais treinar para o Alentejo. Tás mesmo grande, meu.
O que está «mesmo grande» - Bom, pá, vou puxar ferro...
O outro – [pelando a terceira banana em três minutos e meio] Bom treino.

Diálogo anotado por RB, em Moleskine preto com fita.
quarta-feira, dezembro 3
 
Sem mais palavras, porque às vezes elas são supérfluas, um abraço de amizade e solidariedade transatlântica para o João.
 
Factos são factos: José Cesário, que, apesar da mudança de Ministro, continua a ser Secretário de Estado das Comunidades, afirmou peremptoriamente, ontem, no Parlamento, ter recebido orientações do ex-ministro Martins da Cruz, para propor, em reunião de secretários de estado, uma alteração do regime de acesso ao ensino superior a filhos de diplomatas. Contudo, em 7 de Outubro, em declarações à RR (vale a pena ouvir o som), tinha afirmado que toda a responsabilidade pela proposta era sua. "Factos são factos", afirmou então. "Efectivamente, fui eu que apresentei a proposta em causa, numa base exploratória inicial, para avaliar a reacção dos meus colegas", disse, assegurando em seguida não ter tido "nenhuma indicação do senhor ministro" para tal. Ontem, menos de dois meses depois, disse exactamente o contrário. PAS
 
A (de)missão de informar e o império da opinião (II)
Veja-se o caso, por exemplo, da «opinião» e a sua construção. Começo por algo aparentemente menor. As sucessivas entrevistas de rua como forma de aceder à «opinião dos portugueses» não são aceitáveis. O que três ou quatro transeuntes da Rua do Ouro ou da Av. 5 de Outubro dizem ou deixam de dizer sobre um qualquer assunto é perfeitamente irrelevante do ponto de vista do que «os portugueses pensam» sobre esse assunto. Mas aqui a perversão está tanto na valorização do conteúdo, como no próprio acto do inquérito. A ideia de que cada peça de informação requer ser comentada «pelos portugueses», de que só assim ganhará o seu pleno significado jornalístico, é perversa por ser demagógica. Para mais, é sintoma de uma outra coisa grave: a permanente mistura da informação com o comentário ao ponto da sua quase indistinção formal. Como se não bastasse os telejornais terem duas horas, esse espaço televisivo de informação por excelência abriu-se por completo aos comentários e aos comentadores-residentes. Ora, comentário não é informação, é comentário. A não ser, como já se percebeu, que aquilo que o Professor Marcelo diz ao Domingo, em jeito de comentário, sobre qualquer coisa – digamos, José Luís Arnaut e a America’s Cup – seja por si mesmo a notícia, como o provam as transcrições resumidas publicadas nos jornais diários de Segunda-feira, insertas na secção «Nacional» e não «Espaço público»
Mas se os jornalistas se demitiram de informar, eles parecem ter descoberto uma outra vocação: opinar. Como já não há notícias, já só há opiniões, nada mais lógico do que os jornalistas venderem as suas. Hoje em dia não há jornalista que não faça uma perninha em colunas de opinião nos jornais e nas televisões. Repare-se que não falo de editoriais. É a Judite de Sousa, o José Alberto de Carvalho, a Maria Elisa, o Octávio Ribeiro, e por aí fora. Então o 24Horas todos os dias tem um jornalista/colunista de serviço. E anuncia isso no jornal como chamariz para os leitores. É também significativo que os leitores busquem tão avidamente opiniões. O que seria bom, na versão bondosa da cidadania interessada, ou mau – na versão menos bondosa, como suspeito, do prêt-à-penser – na ausência da sólida matéria a partir da qual elas se podem construir: isso mesmo, informação credível.
Não podia estar menos em causa o direito de cada um a exprimir a sua opinião, mas porque há-de ser a do jornalista mais qualificada que a minha, enquanto opinião? Para mais quando o exercício da dele pode revestir questões delicadas do ponto de vista deontológico. Por exemplo, se ficamos a saber da coluna de opinião de Judite de Sousa que ela considera certo líder político incompetente, como esquecer-nos dessa sua opinião da próxima vez que ela o entrevistar para a RTP? RB
terça-feira, dezembro 2
 
A (de)missão de informar e o império da opinião (I) Para que chegue a merecer o nome, a actividade de informar implica sempre intermediação; ela supõe sempre um exercício de escolha, depuração, confronto de versões, cruzamento de fontes e – também – o comentário plural. Para que venha a ser «informação», a matéria bruta do que «acontece» deve ser submetida a um conjunto de operações a que chamamos jornalismo, executadas por um grupo profissional desejavelmente especializado a que chamamos jornalistas. Nas democracias liberais em que vivemos, a nobreza do jornalismo reside no estabelecer, intermediando, a ligação entre o que acontece e o colectivo, através da esfera pública. A notícia, ainda que recebida por cada um ao nível individual, tem como horizonte a comunidade, a opinião pública. Ou não é notícia. É, por essa razão, eminentemente política.
A ideia de que a «informação» é a transmissão em directo e não-mediada da «realidade» é um crasso erro epistemológico e uma perigosa fonte de demagogia política. Ela favorece junto dos que a recebem uma forma de entender «o que acontece», a realidade, e nomeadamente a realidade política, na qual o populismo e a mais barata demagogia servem que nem uma luva. Não é de estranhar; na verdade, são uma e a mesma coisa. A abertura dos telejornais, por exemplo, quase todos de quase todas as estações com raras excepções, é perfeitamente imbecil e nada tem de informativo. É o caso pessoal, a doença, a questão paroquial, a bizarria, o escândalo fácil, a ira self-righteous, o atear da insegurança, o jogo com os sentimentos. Quando não é a mais singela e pornográfica violência. Crime, crimes de sangue, sexo, operações cirúrgicas – vale tudo na luta pelo share.
É claro, por outro lado, que quem recebe a informação não se limita a assimilá-la de modo acrítico e portanto as pessoas podem simplesmente deixar de ver o telejornal da TVI e de comprar o Expresso, para só dar dois bons exemplos. Sucede, porém, que a questão, por ser normativa, por dizer respeito à forma como as coisas deveriam ser, é anterior a esta e diz respeito aos jornalistas.
Os jornalistas deveriam ser os primeiros a dar-se ao respeito. Os primeiros, enquanto grupo profissional, a zelarem pela integridade do que fazem. E a Ordem dos Jornalistas, sempre tão ufana quando se trata – e bem – de garantir o acesso dos jornalistas à informação e a protecção das suas fontes, nada diz em relação à escandalosa demissão dos jornalistas em relação ao mais elementar acto constitutivo da sua profissão: informar em autonomia – que é o contrário de papaguear em heteronomia. Sempre lestos a defender os seus direitos, os jornalistas parecem pouco preocupados em assegurar os seus deveres. RB
 
Totalmente de acordo. FN
 
Decorreu este fim de semana o congresso da JP/Gerações Populares. A coisa só foi notícia porque este foi um fim de semana com ponte, isto é, sem notícias. A escolha da data foi, sem dúvida, oportuna. Assim, o dr. Lopes ficou a saber que conta com o importante apoio desta organização de massas rumo a Belém. E nós ficámos a conhecer melhor a teoria política do secretário geral do CDS, Mota Soares. Para Mota Soares Constituição de 1976 não serve. Mota Soares lembra-me aquele personagem do Big Lebowski para quem todos os males da América estavam relacionados com o Vietname. De acordo com a doutrina Mota Soares, a Constituição é a causa de todos os males de Portugal. Aliás, segundo o secretário geral do CDS, a melhor prova de que a Constituição não é serve é termos perdido a organização da America's Cup. Moral da história: com esta Constituição, só temos hipóteses na organização da Soviet's Cup. FN
 
"Eles andem aí": Tenho bons amigos no blogue desejo casar. E por este andar vou ter muitos mais. Aquilo conta já com quinze, repito, quinze colaboradores permanentes. Se decidirmos imprimir uma semana do desejo casar, ficamos sem tinteiro na impressora e com a mesma quantidade de papel que traz o Expresso. Dificilmente conseguiremos ler mais do que os títulos - o que é lamentável, porque, ao contrário do Expresso, vale a pena ler o desejo casar. Este fim de semana, por exemplo, passei pelo triplex do Porto. Estavam lá o Miguel Romão, o Bernardo Rodrigues e o Ricardo: todos bloguers, todos do desejo casar. FN


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